quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Ebola: como evitar uma pandemia

A epidemia do vírus ebola no Oeste da África parece estar fora de controle. O que fazer para impedir que a doença se torne um flagelo mundial?

PEDRO LUNA

"Desculpe, nada de apertos de mão. Um sorriso serve", lê-se na Libéria.















A situação no Oeste da África contina a se deteriorar rapidamente. A epidemia causada pelo vírus ebola que começou em dezembro com a morte de um menino de dois anos evoluiu ao ponto de produzir mil novos casos por semana. As previsões não são nada animadoras. Segundo Bruce Aylward, o vice-diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS) e encarregado do combate à epidemia, se a resposta mundial à crise não aumentar significativamente nos próximos 60 dias, “muitos mais irão morrer”. Quantos? Aylward estima em 10 mil novos casos por semana, com ao menos 5 mil mortos. E alerta: a mortalidade do vírus, que era de 50%, está chegando aos 70%. Ou seja, sete em cada dez novos doentes poderão morrer.

Este artigo parece catastrofista. Não é. Estou apenas repetindo dados que já foram confirmados e divulgados pela OMS. E isto suscita algumas questões de muita gravidade. Ora, como a OMS pode estimar um aumento exponencial de mil novos casos por semana para 10 mil, apesar de todo o sacrifício do pessoal da OMS e de organizações como o Médicos sem Fronteiras que combatem a epidemia? A resposta é que a epidemia está fugindo do controle das autoridades sanitárias - se é que já não fugiu. Até o momento foram confirmados 8.973 casos na Guiné, Libéria, Serra Leoa. Deste total, 4.484 já morreram. Uma epidemia que foge do controle pode eventualmente receber uma nova denominação: pandemia. 

Conheça a diferença entre os dois termos. Segundo os manuais de medicina, “uma epidemia ocorre quando da existência de mais casos de uma doença do que seria esperado dentro de uma comunidade ou região ao longo de um dado período de tempo” (leia aqui). Já “uma pandemia [do grego pan (tudo) + demos (povo)] é uma epidemia de doença infecciosa que se alastra pelas populações através de uma grande região, como um continente ou até mesmo o mundo” (aqui).

Por esta definição, a epidemia de ebola no Oeste da África está se aproximando de um limiar muito perigoso. Já foram registrados 20 casos na Nigéria, um no Senegal, um na Espanha e 3 nos Estados Unidos. Os casos americanos e espanhol são exemplares, porquê demonstram como o vírus é infeccioso. Apesar de não ser transmissível pelo ar, como o vírus da gripe, o ebola foi capaz de romper todas as barreiras sanitárias impostas no interior das unidades de terapia intensiva de duas instituições de renome, o Hospital Presbiteriano de Dallas, no Texas, e o Hospital Carlos III, em Madri. No caso americano, duas enfermeiras se infectaram ao cuidar do liberiano Thomas Eric Duncan, que morreu no dia 8 de outubro. O mesmo ocorreu em Madri com outra enfermeira. Ora, se o vírus é capaz de vencer barreiras de isolamento em instituições-modelo, o que dirá dos postos improvisados de atendimento na África?

Imagem do vírus ebola ampliado milhões de vezes

















A hora de a comunidade mundial agir contra a expansão da doença é agora. Não se pode perder mais nenhum instante. Os países ricos e os não tão ricos assim - é o caso do Brasil - precisam contribuir imediatamente com pessoal, medicamentos, material hospitalar, hospitais e tendas de campanha, assim como caixões invioláveis e incineradores - além de bilhões (e não ínfimos milhões) de dólares de ajuda aos países atingidos e todos os seus vizinhos. 

Do seu lado a OMS e o FDA, a agência do governo americano responsável pela fiscalização dos remédios e alimentos, já iniciaram em passo acelerado os testes clínicos em humanos de vacinas em potencial, assim como de drogas experimentais que poderiam combater o ebola. A mais promissora se chama ZMapp. Ela foi administrada a dois americanos infectados na África e, ao que parece, salvou suas vidas.

Quando, e se, a epidemia vier a ser controlada e o risco de uma pandemia for evitado, a ajuda humanitária aos países mais miseráveis da África deve persistir, pois o ebola não terá desaparecido. Seu habitát é o organismo de morcegos que habitam toda a África equatorial, do Congo ao Quênia, do Senegal até Uganda. Há centenas de bilhões desses morcegos nas cavernas e florestas. É impraticável exterminá-los. A única solução é o desenvolvimento de uma vacina eficiente contra o vírus. 

leia também: O pesadelo número dois dos epidemiologistas

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